sexta-feira, 15 de julho de 2011

Confissões em um pequeno caderno de notas direcionado ao sem fé no mais poderoso ser que possa existir para você: você.

Setenta e sete anos. Descontentamento. Eu me encontro na fase senilidade, o último estágio do envelhecimento em que minha memória já está falha e meu estado físico envelhecera junto aos anos que se passaram – um todo em que tudo funciona com base mais ou menos, e as dores estão mais para mais do que para menos. Sentei-me em frente a esta velha máquina de escrever fazem mais de duas horas – estava olhando para a folha em branco e acredite ou não, ela olhava de volta para mim, mas finalmente, ainda que de um jeito melancólico e doído, encontrei uma maneira de começar.
Insano, ilimitado, louco: um jovem cuja vida fora menos que risos por risos, e mais por sarcasmo. A morte nunca me causou medo ou sombra, a vida causara isso por ambas, pois triste não é morrer, e sim passar a vida esperando para que a morte chegue e como um piscar de olhos, um sopro, uma pedra atirada, pegue você e arraste para o fundo do fundo e se não tiveres vivido tudo o que lhe foi proporcionado a viver, meu caro, o arrependimento poderá doer como uma pequena faca cortando cada centímetro do seu corpo vivo quando estiver entre os muros do inferno. A vida tem se tornado uma fila de esperas, por um atendimento médico, por um emprego, por um antigo amor, por uma oportunidade, por um cão no bolso, por uma vaga no estacionamento, por um horário no dentista; todos esperam por algo o tempo todo, enquanto sentada a espera de um ônibus carregado por bêbados, sóbrios, religiosos e ateus está a vida. As palavras para mim nunca foram um dom ou uma preciosidade, sempre foram uma necessidade e com meu pouco talento para lidar com elas, aprendi a riscar papeis – em geral pela madrugada, após fumar vinte e sete cigarros, acompanhado por uma garrafa de uísque, apenas riscava, amassava ou guardava. Em geral minhas histórias eram autobiográficas sobre noite em bordeis, em puteiros, em bares, botecos, ruas e becos. As preferidas eram sobre as putas e seus sentimentos exonerados de si mesmas, em maior parte o motivo era pais violentos, por estupros, falta de dinheiro, mães alcoólatras e algumas porque realmente gostavam do caralho, essas foram personagens principais de romances de verão narrados por mim. As aventuras eram loucas, mas houve uma mudança deliberada após conhecer uma... Uma que com uma cicatriz marcando teu rosto perfeitamente bonito, suicidou-se após uma noite num programa.
“Querido Alexander, perdoe-me pela falta de fé que tenho apesar das noites em que passamos acordados bebendo uísque e mais uísque enquanto você me ensinava que a fé não chegaria pelo correio. Busquei por ela em todos os cantos, e a cada vez que me deparava com um espaço vazio tomando conta de todo o meu mundo, tornava-me menos viva, menos feliz, menos eu, menos você. Essa cicatriz marcou minha história como um tsunami, um terremoto, uma crise financeira na Bolsa de Nova York. Não estarei sentindo dor a partir do momento em que... Bom... Deus não me aceitará, mas que seja com o diabo. Eu quero paz. Eu quero inferno. Eu quero qualquer coisa que seja diferente deste mundo. Talvez me ajoelhe e peça a Deus que me perdoe por todos os pequenos e grandes erros, porque o que eu quero é um lugar diferente para viver, e o inferno não estaria muito distante da minha atual realidade. Três abortos, doses, cigarros, drogas e grandes caralhos, como diria você rindo enquanto servia-se de mais um copo. Recebemos conselhos do diabo, vivemos uma loucura aparentemente sem fim e hoje decidi dar este mesmo a ela. Perdoe-me por toda essa confusão descrita, e pela maneira a qual irei despedir-me. Fui a casa onde vivi quando criança, algumas aranhas ainda a habitavam e no fundo, no quintal dos fundos, havia duas pequenas placas com flores secas e uma mensagem: “Deus nos levou para vivermos ao lado dele.” Não sei se existe mesmo a Redenção, mas de todos os erros que cometi eu quero me redimir. Agradeço pelas noites, pela comida, e por desacreditar do mundo, mas acreditar em mim. Velho... Espero você lá embaixo”.
Nunca fora boa com as palavras, pouco sabia ler ou escrever, mas era a mulher mais linda que eu já havia visto em todos os longos e doloridos dias. Abusada pelo pai, rejeitada pela mãe e pelo avô, partiu às ruas. Rejeição.
Agora... Ao sem fé no mais poderoso ser que possa existir para você.
Não acredito em boas intenções, em pessoas, ideias, deus ou ideais, todos estes terceiros foram inventados pelo próprio homem para tirar a fé de onde deveria haver. Fui rejeitado, todos já foram algum dia e se não foram, serão, pois sempre haverá aqueles que não terão fé em si e tentarão fazer com que eu, você não acreditemos no melhor para nós mesmos. Para mim, eu. Para você: você.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Born into this (Bukowski)

nascido como isso
dentro disso
enquanto faces de giz sorriem
enquanto a Sra. Morte gargalha
enquanto as paisagens políticas se dissolvem
enquanto o garoto das sacolas no supermercado segura um diploma universitário
enquanto o peixe oleoso cospe fora suas presas oleosas
enquanto o sol se esconde

nós nascemos como isso
dentro disso
dentro de guerras cuidadosamente insanas
dentro da visão das janelas quebradas da fábrica do vazio
dentro de bares onde as pessoas não mais conversam umas com as outras
dentro de brigas de punhos que terminam em tiros e facadas

nascido dentro disso
dentro de hospitais que são tão caros que é mais barato morrer
dentro advogados tão caros que é que é mais barato alegar culpa
dentro de um país onde as cadeias estão cheias e os hospícios estão fechados
dentro de um lugar em que as massas elevam idiotas à condição de heróis ricos

nascido dentro disso
andando e vivendo através disso
morrendo por causa disso
emudecido por causa disso
castrado
escarnecido
deserdado
por causa disso
enganado por isso
usado por isso
mijado por isso
feito louco e doente por isso
feito violento
feito desumano
por isso

o coração está enegrecido
os dedos buscam a garganta
a arma
a faca
a bomba
os dedos se estendem a um deus que não responde

os dedos buscam a garrafa
a pílula
o pó

nascemos dentro dessa pesarosa mortalidade
nascemos dentro de um governo há 60 anos em débito
em breve será impossível pagar até os juros da dívida
e os bancos queimarão
o dinheiro será inútil
haverá assassinato gratuito e impune nas ruas
pistolas e máfias nômades
a terra será inútil
a comida se tornará um retorno escasso
o poder nuclear será dominado por muitos
explosões constantes estremecerão a terra
homens robôs radioativos caçarão uns aos outros
os ricos e os escolhidos assistirão a tudo de plataformas espaciais
o inferno de Dante vai se parecer com um jardim de infância

o sol não será visto e será sempre noite
as árvores morrerão
toda a vegetação morrerá
homens radioativos comerão a carne de homens radioativos
o mar será envenenado
rios e lagos desvanecerão
a chuva será o novo ouro

a carne apodrecida de homens e animais vai feder no vento sombrio
os raros sobreviventes serão dizimados por novas e hediondas enfermidades

e as plataformas espaciais serão destruídas pelo desgaste
a exaustão de suprimentos
efeito natural da decadência geral

e existirá o mais belo silêncio já ouvido
nascido de tudo isso

o sol ainda oculto
apenas esperando o próximo capítulo.


sábado, 2 de julho de 2011

O que é a loucura se não seu estado de permanência em dias tão secos noites tão frias e situações tão mundanas e grotescas?