sexta-feira, 15 de julho de 2011

Confissões em um pequeno caderno de notas direcionado ao sem fé no mais poderoso ser que possa existir para você: você.

Setenta e sete anos. Descontentamento. Eu me encontro na fase senilidade, o último estágio do envelhecimento em que minha memória já está falha e meu estado físico envelhecera junto aos anos que se passaram – um todo em que tudo funciona com base mais ou menos, e as dores estão mais para mais do que para menos. Sentei-me em frente a esta velha máquina de escrever fazem mais de duas horas – estava olhando para a folha em branco e acredite ou não, ela olhava de volta para mim, mas finalmente, ainda que de um jeito melancólico e doído, encontrei uma maneira de começar.
Insano, ilimitado, louco: um jovem cuja vida fora menos que risos por risos, e mais por sarcasmo. A morte nunca me causou medo ou sombra, a vida causara isso por ambas, pois triste não é morrer, e sim passar a vida esperando para que a morte chegue e como um piscar de olhos, um sopro, uma pedra atirada, pegue você e arraste para o fundo do fundo e se não tiveres vivido tudo o que lhe foi proporcionado a viver, meu caro, o arrependimento poderá doer como uma pequena faca cortando cada centímetro do seu corpo vivo quando estiver entre os muros do inferno. A vida tem se tornado uma fila de esperas, por um atendimento médico, por um emprego, por um antigo amor, por uma oportunidade, por um cão no bolso, por uma vaga no estacionamento, por um horário no dentista; todos esperam por algo o tempo todo, enquanto sentada a espera de um ônibus carregado por bêbados, sóbrios, religiosos e ateus está a vida. As palavras para mim nunca foram um dom ou uma preciosidade, sempre foram uma necessidade e com meu pouco talento para lidar com elas, aprendi a riscar papeis – em geral pela madrugada, após fumar vinte e sete cigarros, acompanhado por uma garrafa de uísque, apenas riscava, amassava ou guardava. Em geral minhas histórias eram autobiográficas sobre noite em bordeis, em puteiros, em bares, botecos, ruas e becos. As preferidas eram sobre as putas e seus sentimentos exonerados de si mesmas, em maior parte o motivo era pais violentos, por estupros, falta de dinheiro, mães alcoólatras e algumas porque realmente gostavam do caralho, essas foram personagens principais de romances de verão narrados por mim. As aventuras eram loucas, mas houve uma mudança deliberada após conhecer uma... Uma que com uma cicatriz marcando teu rosto perfeitamente bonito, suicidou-se após uma noite num programa.
“Querido Alexander, perdoe-me pela falta de fé que tenho apesar das noites em que passamos acordados bebendo uísque e mais uísque enquanto você me ensinava que a fé não chegaria pelo correio. Busquei por ela em todos os cantos, e a cada vez que me deparava com um espaço vazio tomando conta de todo o meu mundo, tornava-me menos viva, menos feliz, menos eu, menos você. Essa cicatriz marcou minha história como um tsunami, um terremoto, uma crise financeira na Bolsa de Nova York. Não estarei sentindo dor a partir do momento em que... Bom... Deus não me aceitará, mas que seja com o diabo. Eu quero paz. Eu quero inferno. Eu quero qualquer coisa que seja diferente deste mundo. Talvez me ajoelhe e peça a Deus que me perdoe por todos os pequenos e grandes erros, porque o que eu quero é um lugar diferente para viver, e o inferno não estaria muito distante da minha atual realidade. Três abortos, doses, cigarros, drogas e grandes caralhos, como diria você rindo enquanto servia-se de mais um copo. Recebemos conselhos do diabo, vivemos uma loucura aparentemente sem fim e hoje decidi dar este mesmo a ela. Perdoe-me por toda essa confusão descrita, e pela maneira a qual irei despedir-me. Fui a casa onde vivi quando criança, algumas aranhas ainda a habitavam e no fundo, no quintal dos fundos, havia duas pequenas placas com flores secas e uma mensagem: “Deus nos levou para vivermos ao lado dele.” Não sei se existe mesmo a Redenção, mas de todos os erros que cometi eu quero me redimir. Agradeço pelas noites, pela comida, e por desacreditar do mundo, mas acreditar em mim. Velho... Espero você lá embaixo”.
Nunca fora boa com as palavras, pouco sabia ler ou escrever, mas era a mulher mais linda que eu já havia visto em todos os longos e doloridos dias. Abusada pelo pai, rejeitada pela mãe e pelo avô, partiu às ruas. Rejeição.
Agora... Ao sem fé no mais poderoso ser que possa existir para você.
Não acredito em boas intenções, em pessoas, ideias, deus ou ideais, todos estes terceiros foram inventados pelo próprio homem para tirar a fé de onde deveria haver. Fui rejeitado, todos já foram algum dia e se não foram, serão, pois sempre haverá aqueles que não terão fé em si e tentarão fazer com que eu, você não acreditemos no melhor para nós mesmos. Para mim, eu. Para você: você.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Born into this (Bukowski)

nascido como isso
dentro disso
enquanto faces de giz sorriem
enquanto a Sra. Morte gargalha
enquanto as paisagens políticas se dissolvem
enquanto o garoto das sacolas no supermercado segura um diploma universitário
enquanto o peixe oleoso cospe fora suas presas oleosas
enquanto o sol se esconde

nós nascemos como isso
dentro disso
dentro de guerras cuidadosamente insanas
dentro da visão das janelas quebradas da fábrica do vazio
dentro de bares onde as pessoas não mais conversam umas com as outras
dentro de brigas de punhos que terminam em tiros e facadas

nascido dentro disso
dentro de hospitais que são tão caros que é mais barato morrer
dentro advogados tão caros que é que é mais barato alegar culpa
dentro de um país onde as cadeias estão cheias e os hospícios estão fechados
dentro de um lugar em que as massas elevam idiotas à condição de heróis ricos

nascido dentro disso
andando e vivendo através disso
morrendo por causa disso
emudecido por causa disso
castrado
escarnecido
deserdado
por causa disso
enganado por isso
usado por isso
mijado por isso
feito louco e doente por isso
feito violento
feito desumano
por isso

o coração está enegrecido
os dedos buscam a garganta
a arma
a faca
a bomba
os dedos se estendem a um deus que não responde

os dedos buscam a garrafa
a pílula
o pó

nascemos dentro dessa pesarosa mortalidade
nascemos dentro de um governo há 60 anos em débito
em breve será impossível pagar até os juros da dívida
e os bancos queimarão
o dinheiro será inútil
haverá assassinato gratuito e impune nas ruas
pistolas e máfias nômades
a terra será inútil
a comida se tornará um retorno escasso
o poder nuclear será dominado por muitos
explosões constantes estremecerão a terra
homens robôs radioativos caçarão uns aos outros
os ricos e os escolhidos assistirão a tudo de plataformas espaciais
o inferno de Dante vai se parecer com um jardim de infância

o sol não será visto e será sempre noite
as árvores morrerão
toda a vegetação morrerá
homens radioativos comerão a carne de homens radioativos
o mar será envenenado
rios e lagos desvanecerão
a chuva será o novo ouro

a carne apodrecida de homens e animais vai feder no vento sombrio
os raros sobreviventes serão dizimados por novas e hediondas enfermidades

e as plataformas espaciais serão destruídas pelo desgaste
a exaustão de suprimentos
efeito natural da decadência geral

e existirá o mais belo silêncio já ouvido
nascido de tudo isso

o sol ainda oculto
apenas esperando o próximo capítulo.


sábado, 2 de julho de 2011

O que é a loucura se não seu estado de permanência em dias tão secos noites tão frias e situações tão mundanas e grotescas?

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Quase portuguesa



Uma maneira de falar que hipnotiza a qualquer um, acredito que ninguém nunca descobrirá como a garota encanta tão facilmente. Ela sorri, e BANG, lá está mais um louco, insano, perdido em cada movimento que faz a boca bem feita da moça bandida que rouba sentimentos. Não, não adianta passar a noite acordado tentando entender; Aqueles olhos são únicos, falam por si só, a silhueta causa desejo de segundo em segundo… E como ela movimenta as mãos? O movimento das mãos é fascinante. A delicadeza como movimenta aquelas mãos acenando para mim. Há dias que coloco a cabeça no travesseiro, fecho os olhos e penso: tua imaginação velho, tua imaginação. Mas amanhece, e vejo a moça ir comprar teus pães e do outro lado da rua ela acena para mim, e eu para ela e está aí, mais um dia ganho só por conta de uma acenada. O que está havendo contigo, velho? Anda sonhando demais. Falo comigo mesmo. Não sei, não sei. É apenas mais um dia ganho… Por uma acenada
Mas isso foi muitos anos atrás. Hoje... Hoje eu estou velho, travado de todas as formas possíveis. A minha vida passou e eu não vi. Hoje, eu me sento numa poltrona de tecido rasgado, fumo meu cigarro barato e tomo meu uísque de mesma qualidade - baixa. A única coisa que consegui trazer e levarei até o leito de morte é a moça bandida que rouba sentimentos. Toda a fórmula era baseada no charme único que ela produzira sem perceber. Quase portuguesa não é algo que se diga para todas as raparigas que saem d'um canto e partem para Portugal: quase portuguesa é uma rapariga única. Eu não me esqueceria nunca de como ela acenava para mim, e de longe, eu imaginara um romance de um velho qualquer com uma rapariga tão formosa. Ela deve ter tido teus três filhos com um homem bem sucedido financeiramente, deve ter uma casa re-al-men-te boa e dormir em sono sossegado. Eu não tenho nada. Nunca tive nada para oferecer, mas tem algo meu com ela... E algo dela comigo.  Um velho, amigo distante, diria que ela era a rapariga que eu nunca tocara, mas escrevia sobre e guardava dela poucas fotografias. O que eu tenho, e que ninguém terá ou oferecerá a ela jamais, é uma coisa mais valiosa que qualquer grana de um bacana possa oferecer: ela tem sotaque nordestino e português de Portugal, ela acenou para mim de longe todas as manhã de um verão inteiro e sorriu, e dentro de todos os meus livros e histórias, ela é a-rapariga-quase-portuguesa e, sem saber, me fez por uma única vez, narrar um romance inexistente no que chamam de vida-real, e existente em todas as palavras que escrevo.  




"Ainda escrevo para não ficar louco, ainda escrevo para explicar esta maldita vida para mim mesmo."

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Um milhão em um
E um em um milhão.
Não faz diferença.
Mas a essência te faz ser único.
Cada sorriso.
Cada dor.
Cada palavra.
Tudo te torna único.
Não importa o tempo que tenha,
O que importa é o que fará dele.
Enfrente com garra.
Com força.
Torna-te cáustico.
Torna-te louco.
E seja.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Esse é o reino onde toda história tem um problema e todo problema tem uma história

Há uma história dentro de um problema.
Há um problema dentro de uma história.
E eu tento decifrar,  
Mas o quebra-cabeça tem peças demais
Até mesmo para uma vida longa. 
E eu nunca conseguirei decifrá-lo por completo, 
Pois a cada dia
Há uma nova história
E um novo problema. 
Tudo se torna um circulo.
Tudo se torna um vício.  
Haverão feridas,
Haverão machucados
Até eu sentir que ainda existe vida.
Eu vou pensar em soluções
E não vou alcançar nenhuma. 
Há uma história dentro de um problema.
Há um problema dentro de uma história. 
Há desordem no centro.
Fuga.
Medo. 
Desonra.
O tempo tem manchado cada linha,
A tinta escorre
E eu me sento num banco de mentiras,
Onde me acomodo, 
Onde me procuro, 
Onde me encontro. 
Esse é o reino da imundice,
Da falta de caráter,
Da dor, 
Da violência,
Do pecado. 
Esse é o reino da imundice.
E castram.
E amarram as mãos.
E vendam os olhos.
E vendam a boca.
Há solução?
Esse é o reino onde toda história
Tem um problema.
Esse é o reino onde todo problema
Tem uma história.
E toda a sujeira tem honra,
Tem medalha,
Tem troféu,
E não há solução
Se não recomeçar, 
Zerar,
Reiniciar,
Apagar toda a memória,
E refazer.
Sente-se no banco da mentira.
Invente uma história. 
Crie um problema.
Castre,
Amarre
E vende.
O circulo continua, o vício continua. 
Há uma história dentro de um problema.
Há um problema dentro de uma história.
Há humanidade, mas não há humanidade.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Big shit that life is

I sat in the chair of torn fabric,
I lit the cigarette,
I downed the whiskey,
and thought about the
big shit that life is.

Citação


Você não é o seu trabalho.
Você não é o quanto tem no banco.
Nem as roupas que veste.
Escolha não ter uma TV grande
nem baixo colesterol
nem um abridor elétrico de latas
nem plano de saúde e dentário
e muito menos uma casa de dois andares numa rua arborizada e filhos que só tiram A+.
As coisas que você possui acabam te possuindo.
Você só é realmente livre após perder tudo.
Pois aí não terá o que perder, e, enfim, encontrar-se-á livre.  

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Bukowski - Frase

Tenho mais fé no meu encanador do que tenho em um ser eterno. Encanadores fazem um bom trabalho. Eles mantem a merda fluindo.

O poder



é melhor não ter olfato,
meu velho.
inspira e expira a angústia,
inspira e expira o desespero,
inspira e expira a tristeza,
inspira e expira o ódio,
inspira e expira a culpa,
inspira e expira a ansiedade,
inspira e expira o abatimento,
inspira e expira o abalo,
inspira e expira a adaptação,
inspira e expira a apatia,
inspira e expira a antipatia,
inspira e expira a arrogância,
inspira e expira covardia,
inspira e expira desgaste,
inspira e expira desgosto,
inspira e expira desinteresse,
inspira e expira desprezo,
inspira e expira.
basta.
faz isso cara...
faz isso e você
vai entender
o centro
de tudo.
o
poder.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Citação Charles Bukowski



"Tinha épocas que o melhor era ficar longe da máquina. Um bom escritor sabe quanto deve parar de escrever. Qualquer um é capaz de datilografar . E eu nem era um bom datilógrafo; era mau também em ortografia e gramática. Mas sabia quando deixar de escrever. Era que nem trepar. Você tinha de dar um tempo pra divindade de vez em quando."

Citação Charles Bukowski

"Por que há tão poucas pessoas interessantes? Em milhões, por que não há algumas? Devemos continuar a viver com esta espécie insípida e tediosa? O problema é que tenho de continuar a me relacionar com eles. Isto é, se eu quiser que as luzes continuem acesas, se eu quiser consertar este computador, se eu quiser dar descarga na privada, comprar um pneu novo, arrancar um dente ou abrir a minha barriga, tenho que continuar a me relacionar. Preciso dos desgraçados para as menores necessidades, mesmo que eles me causem horror. E horror é uma gentileza."

(Bukowski)

quarta-feira, 25 de maio de 2011

On the road (Jack Kerouac)

E eu me arrastava na mesma direção como tenho feito toda a minha vida, sempre rastejando atrás de pessoas que me interessam, porque, para mim, pessoas mesmo são os loucos, os que estão loucos para viver, loucos para falar, loucos para serem salvos, que querem tudo ao mesmo tempo. Agora, aqueles que nunca bocejam e jamais falam chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício, explodindo, como constelações em cujo centro fervilhante — pop — pode-se ver um brilho azul e intenso.

não importa o cão que você tem

três e quarenta e cinco 
um poeta amargo 
pueril, doente e desgastado pela noites
de insônia, pelos dias 
em que
nada passa de descontentamento
de pessimismo 
de incompreensão 
alienação 
não importa o cão que você tem 
no bolso 
não importa o teto que te cobre
não importa se
te servirão filé 
ou osso.
a violência, a dor
e desrespeito estão aí 
vagando as ruas e todos 
os cantos, sem pedir
permissão... 
e as drogas, e as bebidas
e os cigarros 
já não são suficientes para 
cobrir, para tapar
para enterrar 
cada insanidade e o que
resta
é tornar-se louco igual 
esquecer o senso 
deixar o ódio realçar 
as cores do dia mesmo que 
elas sejam 
vermelho 
preto 
cinza 
e você se lembrará de dias que não 
existiram e que ficaram 
perdidos em algum 
lugar 
ao passar dos anos. 
o colégio se foi 
a faculdade se foi 
e você entrega jornais 
e bebe 
e mija 
e dorme 
o primeiro amor se foi 
o segundo se foi 
e você se senta na sala 
com paredes de madeira 
com chão sujo 
com sofá rasgado 
e você lê o jornal
e você não se importa mais 
porque a vida 
...
você não se importa mais 
está velho 
o tempo está passando 
correndo 
e o
frio na alma 
continua 
e você não se importa mais 
e nada mais importa 
deliberadamente sentou-se 
encostou-se 
e nada
fez.
e nada
vale.

A índole da multidão (Charles Bukowski)

Há suficiente traição, ódio, violência,
absurdo no ser humano comum para abastecer qualquer exército
a qualquer momento.
e os melhores assassinos são aqueles que pregam contra o assassinato.
E os melhores no ódio são aqueles que pregam o amor.
E os melhores na guerra - enfim- são aqueles que pregam a paz.
Aqueles que pregam Deus
precisam de Deus.
Aqueles que pregam a paz
não têm paz.
Aqueles que pregam o amor
não têm amor.
Cuidado com os pregadores, 
cuidado com os conhecedores.
Cuidado com aqueles que estão sempre a ler livros,
cuidado com aqueles que ou detestam a pobreza ou se orgulham dela.
Cuidado com aqueles rápidos em elogiar,
pois precisam de louvores em retorno.
Cuidado com aqueles rápidos em censurar:
esses temem o que desconhecem.
Cuidado com aqueles que procuram constantemente multidões;
eles não são nada sozinhos.
Cuidado. 
O homem vulgar, 
a mulher vulgar...
Cuidado com o amor deles. 
O seu amor é vulgar, busca vulgaridade, 
mas há força no seu ódio.
Há força suficiente 
no seu ódio para matar,
para matar qualquer um.
Não esperando a solidão, 
não entendendo a solidão, 
eles tentarão destruir
qualquer coisa
que defira
deles mesmos. 
Não sendo capazes
de criar arte,
eles não
entenderão a arte. 
Considerarão o seu fracasso
apenas como uma falha
do Mundo. 
Não sendo capazes de amar plenamente, 
eles acreditarão que o seu amor é incompleto...
Então odiar-te-ão
e o seu ódio será perfeito
como um diamante brilhante, 
como uma faca, 
como uma montanha, 
como um tigre, 
como cicuta.

25 pés-raspados (Charles Bukowski)

"[...] Cantarolava baixinho. Dali a pouco, ja sentado na minha poltrona, escutei o estalido do salto alto descendo pela calçada. Havia uma bola de tênis na sala. Peguei e atirei com força no chão para que fosse bater na parede e zunisse alto no ar. O cachorro que tinha um metro e meio de comprimento e quase um de altura, mestiço de lobo, deu um salto e abocanhou a bola com os dentes, já quase no teto. Pareceu, de repente, imobilizado no espaço. Que cachorro bonito, que vida maravilhosa. Quando caiu, de novo, no chão, me levantei e fui ver o bolo de carne, estava indo muito bem. Como tudo, aliás."

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A tristeza me recobre

E mando a cerveja goela abaixo

Peço uma bebida forte


Rápido


Para adquirir a garra e o amor de


Continuar!

BUKOWSKI, Charles.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Blue Bird (Chasles Bukowski)

há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica aí dentro,
não vou deixar
ninguém ver-te.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu despejo whisky para cima dele
e inalo fumo de cigarros
e as putas e os empregados de bar
e os funcionários da mercearia
nunca saberão
que ele se encontra
lá dentro.
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado duro para ele,
e digo, fica escondido,
queres arruinar-me?
queres foder-me o
meu trabalho?
queres arruinar
as minhas vendas de livros
na Europa?
há um pássaro azul no meu coração
que quer sair
mas eu sou demasiado esperto,
só o deixo sair à noite
por vezes
quando todos estão a dormir.
digo-lhe, eu sei que estás aí,
por isso
não estejas triste.
depois,
coloco-o de volta,
mas ele canta um pouco lá dentro,
não o deixei morrer de todo
e dormimos juntos
assim
com o nosso
pacto secreto
e é bom o suficiente
para fazer um homem chorar,
mas eu não choro,
e tu?

BUKOWSKI, Charles.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Substituição

Uma terça-feira, por volta das vinte e uma horas, eu estava sentado no sofá ouvindo meu rádio velho – quase queimando, enquanto Lívia se banhava. 
Levantei e fui até a porta do banheiro; abri. Vi Lívia pelo vidro. 
– Querida, vou até o mercado comprar algumas cervejas e calibrar a geladeira, meu uísque acabou. 
E saí, fechei a porta. Saí do quarto e fui andando pelo corredor do hotel. Desci as escadas.
– Boa noite senhora Sanchez.
– Boa noite, Hank. 
Senhora Sanchez era a dona do hotel. Uma velha com seus oitenta anos, ex-puta – (isso existe?), baixa, gorda, cabelos imundos e batom vermelho sangue. Saí do hotel e continuei andando, assim por dois quarteirões e cheguei ao mercado. Entrei e peguei as cervejas, e um litro de uísque, dos baratos. Fui até o caixa, paguei e saí. Voltei pro hotel, a velha não estava mais na recepção sorrindo com aqueles dentes podres para mim. Subi. Abri a porta do quarto e entrei. Dei com a cena de Lívia colocando todos teus pertences numa mala velha, se pode chamar aquela sacola rasgada de mala. 
– Que é isso? 
– Estou indo, Alexander. 
– Indo aonde, queridinha?
– Indo embora, teu velho gordo sem escrúpulos. 
– Por que está falando assim, queridinha?
– Você só pensa em beber cerveja, uísque e fumar esse maldito pau de obra. Que futuro terei eu vivendo com uma barriga dessa, com esse teu cheiro de álcool, com esse hálito de cerveja e cigarro o tempo todo? Que futuro tenho eu, Alexander? 
Larguei as sacolas com as cervejas e uísque no sofá e encostei numa das paredes, cruzei os braços enquanto olhava ela colocar as coisas na sacola. 
– Que futuro você tem sem mim? 
– Ah, eu tenho. Trinta anos com um velho xoxo como você. Eu mereço mais. 
– Então vá. Vá logo e me dê paz, finalmente. 
E ela guardou tudo e pôs-se a fora do quarto. Fui até a janela e vi, minuto depois, ela andando pela calçada, sem rumo foi embora. 
Voltei para o sofá e tirei da sacola as cervejas. Abri e servi-me d'uma. Fiquei escutando o rádio até umas três horas, bebendo toda a cerveja e uísque até que cochilei, adormeci ali mesmo no sofá. Passou a noite – amanheceu, e ouvi baterem à porta. Levantei com a roupa de ontem, com a cara amassada e um gosto de estrume na boca. Abri a porta e era a velha da recepção. 
– Bom dia, Hank. 
E dirigiu seu olhar caído como de cão para dentro do quarto, como quem queria bisbilhotar. 
– Bom dia dona Sanchez. Que foi que houve pra tua visita? 
– Reparei que a moça saiu ontem pela noite e gostaria de saber se continuará aqui. 
– Sim, continuarei dona Sanchez. Agora, com licença. 
E fechei a porta na cara da velha, deitei-me no sofá novamente e tomei um resto de cerveja quente que sobrara numa garrafa.
Estava com Lívia quase dois meses completo. Nunca passa de uma semana, mas eram quase dois meses e me sentia sozinho desde que ela saiu pela porta. Ela não era lá aquelas coisas, mas me divertia. Divertíamo-nos juntos. Bebíamos, dávamos risadas, conversávamos e fodíamos no fim da noite, todos os dias. Quando não fodíamos, ela dava um jeito de me fazer explodir, mas como a vida não é mar de rosas, Lívia já havia quebrado um vaso em minha cabeça e alguns copos que paguei caro, mas era uma mulher e tanto. Para não ficar nessa nostalgia barata de velho eu resolvi sair. 
Quarta-feira.
Era um bar que sempre frequentei. Não muito higiênico. As paredes eram madeira velha, mal pintada, mesas caindo aos pedaços, cadeiras desconfortáveis com pernas mais finas que punho de criança – daquelas que os cupins se satisfazem demasiados, mas as toalhas que cobriam as mesas... Ah, aquelas toalhas me agradavam: azuis, escuras, com detalhes brancos e alguns tons manchados; o cinzeiro sobre a mesma, e sempre sujo. Eu estava ali. Antes de Lívia, passava grande parte do meu tempo sentado ali, com um bloco onde eu escrevia notas do dia, pouca merda. Talvez o motivo maior fosse o bom rebolado da garçonete Eva. Não havia como não seguir os passos daquela mulher. Aquele uniforme marcante fazia todos os caras podres imaginarem ela – claramente – cavalgando com os longos fios vermelhos bagunçados, eu imaginara. 
Estava na mesa de número vinte, no fundo do bar, a última mesa. Ela passara por mim e foder com Eva seria o melhor remédio para um pé na bunda.
– Eva, me traz mais uma cerveja. Disse enquanto mirava meus olhos para o decote da garçonete. 
Andou até o balcão e logo se abaixou para pegar a cerveja. Maldita. A vontade era arrastá-la para o banheiro e fodê-la ali mesmo. Veio até minha mesa e do bolso tirou um abridor, abaixou-se novamente, mas com teu decote mirando minha cara; abriu e serviu-me a cerveja na caneca. 
– Tenho vontade de foder você. Disse a ela enquanto via teus seios deliberadamente em minha frente.  
– E por que não fode? Respondeu enquanto puxava seu uniforme para cima, fazendo-se de comportada, quando sua cara entregava a vontade de foder comigo. 
Ouvi o grunhido de porta velha quando se abre. Olhei e vi – talvez uma das mulheres mais lindas que já havia visto: não passara dos vinte e seis, tinha os fios abaixo da cintura, dourados e livres, o corpo era formato de violão, usava um vestido preto longo que não marcava suas partes – não formal, a pele era como de recém-nascido, e com essa distância pude reparar teus olhos claros como água. Escrevi em uma das notas do bloco, mandando a ela um bilhete por Eva, e ela foi entregá-lo. Arrisquei nesse bilhete ficar sem foder uma nem outra. Antes que chegasse ao meio do caminho, levantei a bunda da cadeira e em passos rápidos fui até Eva e tomei de sua mão o papel. Caminhei até a rapariga e ali mesmo no balcão, sentei-me no banco ao lado dela. 
– Eva, mais duas. 
E Eva serviu-me mais duas cervejas. Peguei uma e traguei um gole que foi metade do líquido. Dei a outra a ela, ou melhor, coloquei à sua frente. 
– Você é velho. Disse ela enquanto pegava a cerveja que paguei. 
– Sou. Tenho cinquenta e dois. 
– E o que pensou ao vir pagar bebida para uma rapariga como eu, de vinte e dois?
– Achei que seria vinte e seis. 
– Vinte e dois. E tragou metade da cerveja também. 
Levantei-me para voltar à minha mesa, e fui. Me sentei e voltei a anotar no meu bloco. Pouco mais de dez minutos vi a rapariga vir em minha direção; sentou-se. Não desviei meus olhos dos papeis. Assim por uns segundos. 
– Cinquenta e dois, e ainda tem ereção, velho?
Então ergui meu rosto e olhei para o da rapariga.
– Cinquenta e dois e fodo muito bem, rapariga. 
– Muito bem? E riu ao me questionar.
Peguei em meu bolso o maço do meu cigarro velho e amassado; tirei um e acendi, já inalando a fumaça num trago bem puxado ainda olhando para o mesmo rosto.
– Você cobra? Perguntei enquanto a fumaça vazava entre os meus lábios e também pelas narinas. 
– Cobro.
– Dispenso. 
– Dispensa? E riu mais uma vez. – Um velho como você me dispensa?
– Dispenso. E traguei de novo o cigarro. 
A rapariga olhou para os lados e não via ninguém além de mim e ela no ambiente – também a garçonete e o dono.
– Qual teu nome? Perguntei após me servir da outra metade que restava da cerveja. 
– Rose.
– Bom nome, Rose. 
– E o seu, velho? E novamente riu ao dirigir a palavra a mim.
– Alexander, mas prefiro Hank. 
– Certo velhote Hank. 
– Você vai me deixar foder ou não você, rapariga? Digo Rose. 
– Quer me levar para beber algo em um lugar pouco mais íntimo do que esta espelunca?
– Meu apartamento é uma espelunca mais íntima. E já fui me levantando da cadeira recolhendo as notas e apertando a bituca do cigarro no cinzeiro, até que se apagou. Ela levantou-se em seguida.
– Vamos. Disse e sorriu discretamente para mim. Mas não me culpe por cair de amores depois.
Saímos do bar e a pé, fomos. No caminho, parei em um mercado – desses que ficam abertos pela madrugada –, comprei dois litros de vinho e mais um maço de cigarros e ela me esperou do lado de fora.
– Vamos. Eu disse ao sair pela porta do mercado.
Continuamos andando por alguns minutos, até pararmos em frente ao hotel no qual eu estava morando – o mesmo quarto que eu dividira com Lívia. Abri a porta, e logo vi umas baratas correrem para teus ninhos. Subimos as escadas até o terceiro andar e lá, em frente à porta enfiei a chave na fechadura e abri. Entramos. 
– Olha, você é mesmo tão velho quanto imaginei. Disse com um tom sarcástico olhando para cada canto do cômodo. 
Fui até o armário e peguei dois copos, servi vinho até enchê-los e logo dei um destes a ela, e fiquei com o outro; dei um trago de meio copo. 
– Então, você é puta?
– Sou não, faço por diversão. 
– Fode com velhos por diversão?
– Nunca fodi com um.
– E por que veio aqui?
– Porque quero que você me foda. Gosto de experiências novas. Mas como eu já disse, vou repetir. Não me culpe depois por cair de amores.
Então colocou o copo sobre a mesa e tirou o vestido, deixando-o cair até seus pés e deu uns passos à frente, soltando-o por completo. Coloquei meu copo também sobre a mesa e despi-me em segundos, ficando apenas de cueca e logo vi Rose vindo em minha direção e abaixando-se. Olhei para o rosto dela e ela tirou para fora e logo meteu tua língua na glande, enfiando-o todo na boca em seguida.
– Porra, você é uma diaba. 
E ela olhava para o meu rosto enquanto a tua boca deslizava e chupava. Afastou por segundos.
– Você gosta que sugue tua glande, velhote?
E eu olhava para o rosto da diaba, sentindo a pulsação. Ela voltou a boca, e senti a glande penetrar a garganta; logo foi tirando a boca, mas sugando-o com força. Eu já amava Rose ali. Parou e levantou-se. Foi até a cama e deitou. Já estava sem calcinha. Deitou e abriu as pernas e então vi sua rata aberta pra mim. Fui também até a cama e me deitei sobre Rose, e comecei a fodê-la lentamente. Logo que entrou, ouvi um som passar pelos lábios da rapariga, e então ela moveu-se até que penetrasse completamente. Aquela parecia a melhor foda da minha vida – naquele momento, mas eu não me importava, estava amando Rose. Era apertada. Um, dois, três, quatro, cinco... Antes de completar vinte, já senti explodir, o ápice foi alcançado naquela lentidão maldita; a rata apertada me fez explodir com menos de vinte fodidas. Porra, como aconteceu isso? – Pensei comigo enquanto a menina ria e deixava escorrer por suas pernas. Levantou-se e limpou com o lençol. Eu continuei deitado. Ela serviu-se de mais vinho, e voltou à cama. Sentou sobre mim e começou a rebolar a rata molhada.
– Você é uma diaba de vinte e dois anos. 
– E você um velho safado. Disse rebolando a rata sobre mim.
– Me parece que você gosta de velho safado.
A rapariga ignorou e continuo rebolando a rata em mim. Levou as mãos até os peitos e apertou. E rebolou por minutos. Fiquei olhando fixamente. Fez um som alto enquanto dizia que chegara ao ápice e iria explodir também. Levei uma das minhas mãos à rata e enfiei-lhe o dedo, fazia movimentos para frente e trás e ela rebolava com a respiração demasiadamente ofegante e sons altos; grunhidos vazavam pela boca.
– Isso velhote, você me levou ao ápice. 
Fechou os olhos enquanto falava e eu tirei meu dedo molhado da rata dela, ela rebolou com mais rapidez por segundos; explodira. A rapariga parou o rebolado e jogou-se ao meu lado na cama, então me levantei em seguida e me servi de mais um copo do vinho, esvaziando uma das garrafas. Ela cochilou. Traguei todo o líquido do copo, vesti-me, peguei o maço de cigarros e sentei-me numa das cadeiras da mesma. Coloquei o bloco de notas sobre ela, e comecei a escrever. Rapariga, os olhos parecem ondas e a voz música tocada pelo violão que é o corpo. Uma diaba alucinante. Encontramo-nos por aí. 
Deixei a nota sobre a mesa e saí do quarto. Na recepção, o dinheiro que devia e então, porta à fora. Havia fodido uma rapariga de vinte e dois e precisava de um quarto – onde um velho poderia ter paz. Caminhei até o hotel mais próximo e com uns trocados furados no bolso, paguei a noite. Acomodei-me. Acordei no dia seguinte com o maldito telefone tocando.
– Senhor Hank?
– Eu mesmo. 
– Deixaram uma nota para o senhor na recepção. 
Desci até a recepção e peguei a nota. A mesma que eu havia rabiscado, com um escrito no verso: 3335556 Megg. Encontramo-nos, velhote.
Não segurei o riso. Era uma rapariga de vinte e dois anos me mandando o número do telefone. Já estava apaixonado pela jovem.
– Porra, rapariga.
Tirei do bolso o maço e do maço um cigarro. Coloquei entre os lábios e o acendi com um isqueiro da recepção. Traguei por longos segundos e saí pela porta do hotel. Soltei a fumaça e ri baixo, comigo mesmo enquanto me servia de mais um trago. Fui até o telefone mais próximo e lhe soquei uma ficha, disquei. 
– Alô.
– A Megg está? 
– Quem fala? 
– Alexander Hank. 
– Um minuto. E ouvi a moça gritar pelo nome de Megg. 
– Olha só quem me ligou. 
E riu debochando. 
– Você me deixou o número. Não seria cavalheiro se não ligasse. 
– Você não é. Mas está me amando. 
– Onde posso te encontrar? 
– No mesmo bar. Gostei do ambiente porco. Às vinte e uma. 
– Às vinte e uma. 
Desliguei o telefone.