quarta-feira, 25 de maio de 2011

A índole da multidão (Charles Bukowski)

Há suficiente traição, ódio, violência,
absurdo no ser humano comum para abastecer qualquer exército
a qualquer momento.
e os melhores assassinos são aqueles que pregam contra o assassinato.
E os melhores no ódio são aqueles que pregam o amor.
E os melhores na guerra - enfim- são aqueles que pregam a paz.
Aqueles que pregam Deus
precisam de Deus.
Aqueles que pregam a paz
não têm paz.
Aqueles que pregam o amor
não têm amor.
Cuidado com os pregadores, 
cuidado com os conhecedores.
Cuidado com aqueles que estão sempre a ler livros,
cuidado com aqueles que ou detestam a pobreza ou se orgulham dela.
Cuidado com aqueles rápidos em elogiar,
pois precisam de louvores em retorno.
Cuidado com aqueles rápidos em censurar:
esses temem o que desconhecem.
Cuidado com aqueles que procuram constantemente multidões;
eles não são nada sozinhos.
Cuidado. 
O homem vulgar, 
a mulher vulgar...
Cuidado com o amor deles. 
O seu amor é vulgar, busca vulgaridade, 
mas há força no seu ódio.
Há força suficiente 
no seu ódio para matar,
para matar qualquer um.
Não esperando a solidão, 
não entendendo a solidão, 
eles tentarão destruir
qualquer coisa
que defira
deles mesmos. 
Não sendo capazes
de criar arte,
eles não
entenderão a arte. 
Considerarão o seu fracasso
apenas como uma falha
do Mundo. 
Não sendo capazes de amar plenamente, 
eles acreditarão que o seu amor é incompleto...
Então odiar-te-ão
e o seu ódio será perfeito
como um diamante brilhante, 
como uma faca, 
como uma montanha, 
como um tigre, 
como cicuta.

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