Insanidade. Cinquenta e dois anos, manco de umas das pernas – sendo essa a esquerda, cabelos grisalhos, curtos, um pulmão feito bucha vegetal, rígido – fato que dificulta a entrada de ar que foi causado pelos dois maços de cigarro ao dia - quando não são três – há vinte e dois anos, fígado ferido pela bebida, uma marca de nascença na nuca, não muito alto nem muito baixo, olhos escuros, com um corpo que não se encaixa no padrão, esse é Alexander Hank, esse sou eu, e essa é minha vida fodida. Eu não tenho um emprego, não tenho um objetivo, não tenho um Deus e muito menos dois. Se você se perguntou sobre o que tenho: não tenho. Não constitui família – mas talvez tenha alguns filhos por aí, sou divorciado de três mulheres ou se preferir, elas são divorciadas de mim, tenho um gato, uma casa de três cômodos, um banheiro sujo, armários escassos, um quintal com folhas que cobrem o chão, e um carro não luxuoso com garrafas vazias no banco de trás, e uma ou duas completas no porta-malas, talvez três... Ou quatro. Não deixe esquecer-me de dizer que aprecio a bebida, e meu companheiro, desde os trinta é o Passport, um litro que não pago mais de quarenta paus e satisfaço meu desejo. Também gosto das mulheres. Aprecio o jeito como se vestem, e como riem, e como falam, também como agem, e às vezes me enojo com a compreensão delas, mas mais ainda com a incompreensão, ainda assim gosto delas com suas curvas bem feitas, seus perfumes baratos e batons vermelhos. Não tenho uma televisão, mas tenho um rádio que falha algumas vezes, mas é um bom rádio – antigo, no qual escuto os clássicos da madrugada, era de meu pai, que ganhou do meu avô e passou para mim pouco antes de morrer com sua cirrose corroendo cada canto do seu fígado morto. Acho que não citei que costumo passar as madrugadas acordado acariciando a pelagem macia de meu gato enquanto tomo alguns goles de uísque e rabisco uns papeis à toa, citei? Senão, aí está. Rabisco esses papéis durante a noite e a madrugada, e costumo me deitar por volta das oito da manhã, quando o sono costuma vir. Tenho uma cama grande, dessas de madeira antiga, que se desmontada, não monta mais. O colchão é fino, nenhum pouco confortável para as mulheres que trago aqui, mas para mim está bom, talvez até ótimo, pois tenho um colchão. Deito as oito, e acordo por volta das treze ou quatorze horas. A rotina não muda muito. Levanto, vejo copos pela casa, garrafas, pratos, meias, cuecas e ignoro. A primeira coisa que faço todos os dias, após abrir os olhos e me levantar da cama, é ir ao lavatório, onde molho meu rosto e penso no que virá neste dia. Em seguida costumo me olhar no espelho e ver como as rugas tomaram conta do meu rosto marcado pelo cansaço, pelo desprezo, pela falta de ideal e mais uma vez ignoro. Agora que me apresentei a você, acredito que o melhor a ser feito sou eu contar do início, e talvez você entenda melhor a vida fodida de um escritor de gaveta.
Você escreve mucho fueda!
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